quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

SEEDUC /Nova Eja - NEJA (Parte 3 de 3): Pontos negativos ou possíveis problemas do Neja

Se você já cansou de ler, aconselho dar uma pausa, pois devo me estender um pouco mais nessa parte.

1º Falta de logística ou Estrutura na rede estadual – É comum encontrarmos, nas propostas educacionais mais recentes, uma ênfase muito grande nas novas tecnologias na educação. Isso é necessário, mas não da forma como está sendo colocado (ver artigo “modernização na e não da escola”) Frequentemente muito dinheiro é gasto com projetos de grandes dimensões (e verbas) no tocante à aquisição equipamentos e entrega dos mesmos às escolas, como computadores, ar condicionados, modens, datashows, caixas amplificadas e etc. Contudo, há uma obsolescência programada nesses objetos e não há manutenção eficiente, pessoal técnico suficiente, cobertura de internet de qualidade e nem todos os professores estão habituados ou mesmo capacitados para trabalhar com tic´s na sala de aula. Em escolas da região metropolitana sequer à cobertura de sinal de internet de várias operadoras; muitos professores ainda utilizam laptops recebidos (emprestados) em 2008, ou seja, com configuração insuficiente ou com uso já muito intenso; datashows (projetores digitais) tem lâmpadas com vida útil pequena para a necessidade de uso nas escolas. Ao fim muito dinheiro público é gasto e vira tecnolixo.

2º Turmas com número elevado de alunos – Outro ponto crucial para um bom ambiente de aprendizagem é a impossibilidade de um bom trabalho com turmas lotadas. Esse problema não é recente, mas é fundamental que seja resolvido, caso contrário, nenhuma proposta por mais mirabolante e tecnológica que seja vai surtir o efeito desejado. Muitos pedagogos falam da avaliação formativa, processual, individual de cada aluno, mas como acompanhar isso com turmas com 35 a 40 alunos uma vez que quase todos os professores te muitas turmas?

3º Exigência de 3 dias de aula para o cumprimento da carga horária (16h) – Se para os alunos é benéfica a redução de horas-aula por dia, para os professores ela é prejudicial, especialmente para professores que tem duas matriculas e /ou escolas particulares durante o dia, ou seja, quase todos. Com o sistema anterior eram 6 tempos por dia de aula, o que possibilitava cumprir os 12 tempos de aula por semana em dois dias. Para quem trabalha nos três períodos (manhã, tarde e noite), fica muito mais desgastante para o professor.

4º Falta de perspectivas de valorização salarial – Nova Eja, nova capacitação e velhos salários. Poucos professores aumentarão sua auto-estima e, consequentemente sua dedicação sem ver seus salários aumentando para níveis mínimos de qualidade. Aliás, o problema salarial é um ponto de estrangulamento (se assim podemos chamar) do sistema de educação em geral e, mais ainda, na rede estadual do Rio de Janeiro. A meritocracia tão aclamada pelo excelentíssimo senhor governador é herança de um governo neoliberal baseado em preceitos empresariais muito bem conhecidos na iniciativa privada. Além disso, a desvalorização do professor (e de muitos outros servidores públicos) é algo alarmante em toda a última década. Cogita-se até mesmo a aplicação de provas (como se os professores não tivessem feito concursos) para a diferenciação salarial dos docentes e incitação da concorrência e conflitos entre a classe. Devido aos baixos salários, a maioria dos professores acaba por trabalhar com duas matrículas, fazer duplas, glps e outras formas de aumento da carga horária para ter uma renda mais significativa e, dessa forma, acabam dando aulas para um número bastante elevado de alunos, agravado pela superlotação das classes expressada no ponto anterior. Enquanto não houver valorização e planos de cargos e salários dignos, não há como aumentar a exigência aos professores em dedicar seus tempos com cursos, capacitações ou outras atividades extra-classe.

5º Desorganização da CEIERJ – Ao menos no que se refere à formação inicial do período de 04 a 07 de fevereiro de 2013 na Metro I, muitos problemas de organização atrapalharam bastante o andamento das atividades de capacitação dos docentes. O primeiro foi a falta ou pouca existência de informações a cerca do projeto: a maioria dos professores não foram devidamente informados sobre a estrutura do curso, do tempo a ser disponibilizado, das implicações envolvidas no momento da aceitação (ou obrigatoriedade relativa) da participação no projeto, afinal, quase tudo que vem do atual governo vem de cima pra baixo e é obrigatório e os que não participam sofrem retaliações ou ficam sem salário ou abono (como o Docente online, o ID funcional, o Currículo Mínimo). O segundo foi a falta de planejamento na alocação dos professores no espaço do Instituo Rangel Pestana – IERP -, sobretudo no primeiro dia (04), mas isso fica para outra postagem). O terceiro foi a falta de estrutura para atividades na plataforma no local, já que não haviam computadores, a internet não funcionava e não havia tomadas para os professores que levaram seus próprios notebooks. O quarto foi a demora e a deficiência na quantidade dos materiais impressos: nem todos os professores ganharam os dois volumes do livro a ser trabalhado nas atividades e o mesmo não era o livro do professor. Na plataforma os conteúdos não foram disponibilizados no tempo correto, o que dificultou o uso pelos alunos.

6º Risco de surgirem professores excedentes de algumas disciplinas – Como sempre o governo deu ênfase à matemática e à língua portuguesa em detrimento das ciências humanas e mesmo algumas ciências exatas como a física. Com a nova grade, algumas disciplinas serão dadas em apenas dois módulos (como a Geografia e a História – 1º e 3º) e algumas em apenas um módulo (como Língua estrangeira, filosofia e sociologia). Dessa forma, caso não haja grande número de turmas no módulo 1 e 3 e 4, alguns professores terão que deixar o ensino médio ou mesmo a modalidade EJA e serem transferidos para outro turno, escola ou, em caso de não haver disponibilidade de horário, pedir exoneração. Para os professores de Geografia e História serão 4 tempos no primeiro módulo e 3 tempos no terceiro módulo. Até que seja implantado o NEJA em todo o período noturno, há a possibilidade de o professor lecionar em turmas de EJA tradicionais ou mesmo nas turmas de ensino fundamental EJA, mas após a implementação completa do programa alguns professores podem ter problemas. É a forma que o governo encontrou para maquiar o problema da falta de professores.

7º Disponibilidade de tempo para a capacitação – A falta de informações foi somada à obrigatoriedade da presença no curso e causou transtornos. No caso da Metro I, o curso oferecido em parceria com o CECIERJ teve a formação inicial presencial no período diurno, no IERP, entre os dias 04 e 07 de fevereiro. Acontece que nem todos os professores tinham essa disponibilidade, tendo que negociar com outras escolas de outras redes, sendo que as particulares foram o maior problema. Ainda em relação à obrigatoriedade do curso, o pouco de informação presente no site da CEICERJ diz que a formação inicial obrigatória é a de 20 horas presenciais (20 horas de 04 a 07 de fevereiro e mais o dia 23 de fevereiro) e mais 4 horas à distância na plataforma Moodle. Contudo, durante o curso os professores ficaram sabendo que deveriam disponibilizar tempos semanais na plataforma e todo o último sábado do mês das 9h às 13h. Acontece que nem todos tem essa disponibilidade. Muitos trabalham em preparatórios para concursos, fazem cursos de mestrado, especialização ou preparatórios para outros concursos, graduações até mesmo no CEDERJ (como eu) e terão problemas para freqüentar aos sábados.

8º Incerteza da Especialização  - A promessa é que os professores serão encaminhados para complementação de 200 horas às 160 do curso de extensão e a realização de monografia para colação de grau em nível pós graduação latu sensu. Contudo as informações não são precisas e, segundo o calendário para sociologia e filosofia, isso só aconteceria em 2014 para 2015, ou seja, o tempo necessário para o término do mestrado em um curso de especialização. Para Geografia e História não há sequer previsão de complementação. Com isso a formação não implica em mudança de nível e conseqüente aumento salarial.


9º Abono incerto e “em paradas trimestrais” -  Segundo e-mail repassado às diretoras das unidades escolares, os professores que participam do projeto receberão uma bolsa de 300 reais mensais em “paradas” de 3 em 3 meses. Isso Le a crer que o dinheiro será pago acumulado (900 reais), mas ninguém sabe quando receberá verdadeiramente.  Experiências anteriores com professores de matemática do ensino regular mostram que podemos ter problemas com esse pagamento que poderia ser feito mensalmente. Projetos como o Autonomia (em parceria com a Fundação Roberto Marinho) tem verbas muito maiores. O que resta é esperar pra ver.

10º (....) cansado de escrever, deixo esse espaço aberto a você professor cursista do NEJA. Caso eu tenha esquecido de algum possível problema que envolve essa proposta, deixe nos comentários e, assim, completaremos essa lista.

4 comentários:

Anônimo disse...

Alguém sabe como ficará a disciplina de Arte na Nova EJA ?????
Seremos jogados no lixo????

Anônimo disse...

Minha escola (EJA) foi otimizada e tive que complementar 4 tempos em outra unidade. Mas, hoje, abro o Docente Online e descubro que distribuíram meus outros 8 tempos em três noites!

Se fosse 12 tempos em três noites ainda ia, mas 8...

O estado pensa que o professor é sua propriedade. Vejam como ficaram meus horários:

segunda: 1 tempo - 7:00 às 7:50
segunda: 2 tempos - 18:50 - 20:30
terça: 2 tempos - 18:50 - 20:30
quarta: 2 tempos - 10:35 às 12:15
quarta: 4 tempos - 18:05 - 21:20
sexta: 1 tempo - 10:35 às 11:25

O estado quer que eu exonere, só pode! Deve estar sobrando professor de física!

Anônimo disse...

Uma coisa que tenho percebido também é o crescente descaso dos diretores para com os professores, parecem que só se importam em acatar as ordens do Risólia.

Primeiro fui complementar em um colégio que me exigiu duas tardes. Horário horrível para mim, já que dou aula particular e só tenho clientes nos períodos da tarde e da noite. A diretora sabia disso, mas resolveu piorar minha situação, me colocando à revelia em três tardes (1 tempo na quarta, 1 tempo na quinta e 2 na sexta).

Fui na metro e consegui um horário melhor de manhã. Quando fui acertar os detalhes com a outra diretora, a mulher me deixou 1h:14min plantado e não me atendeu. Fiquei tão ultrajado que fui embora sem aviso.

Agora o diretor apronta essa comigo, mesmo sabendo que preciso do máximo possível de noites livres para atender meus clientes.

Essa administração do atual governador nos trata como lixo!

Anônimo disse...

E agora a cereja do bolo!

Fiquei um bom tempo com carga horária livre porque a Metro VI estava uma bagunça, mandando os professores voltarem a unidade. A coisa ficou tão caótica que começaram a alocar os professores à revelia, sem sequer avisar os diretores.

Pois bem, como fiquei um bom tempo só ministrando 8 tempos, o que a SEEDUC fez? Garfou meu auxílio alimentação de agosto e me descontou R$100,00 do auxílio alimentação de junho!

Mas eu não fiquei com 8 tempos porque quis e sim porque a Metro demorou semanas para resolver minha situação e comunicar o diretor!