Série Pensando - Artigos - Resenhas - Resumos
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In: Terra livre. São Paulo, ano 18, vol 1, n° 18, p. 161-178, Jan - Jun, 2002.
Por: Edson Borges Vicente - 2005
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS - IGEO
Departamento de Geografia
Introdução à Geografia - Prof. Gláucio Marafon
Sem: 2005/1- Al: Edson Borges*
“Está hoje, no horizonte, a transdisciplinaridade. O seu percurso terá que ser ainda aprovado. Consiste, basicamente, na convergência de interesses na direção de objeto(s) do conhecimento”.
Odette Carvalho de Lima Seabra
O texto escrito para uma conferência na Universidade de Barcelona em 2002, dispõe a apresentar uma visão geral da Geografia produzida no Brasil nos dias de hoje. De inicio, a autora explicita a dificuldade encontrada em virtude da dimensão da Geografia brasileira, ainda uma constatação de divisão exagerada das ciências parcelares.
Resumo
A autora parte da hipótese de que a especificidade da Geografia brasileira, do fato de os Geógrafos pensarem o mundo em que vivem, mais que criarem correntes geográficas próprias. Nesse sentido, há uma grande produção, ultrapassando os modelos importados.
Na Geografia brasileira, a multiplicidade de abordagens teórico – metodológicas torna-a contraditória, múltipla.
A autora vê uma dicotomia nítida entre a Geografia Física e a Humana, principalmente na pós–graduação. Ainda cita o Rio de Janeiro e São Paulo como os principais produtores de Geografia.
Traçando um panorama histórico, onde o positivismo reinou por três décadas, assinala duas grandes correntes em 1960: A New Geography ou quantitativa e a Geografia Ativa que lançam a Geografia para a fase seguinte: a do surgimento da Geografia Critica ou Radical e a Fenomenologia ou Geografia Humanística. Tendo, a primeira, como principal ícone, o prof. Milton Santos.
O espaço ganhou dimensão filosófica, superou-se a concepção de “palco da atividade humana” e rompeu-se com a postura positivista, com base no materialismo dialético. O espaço, agora, entende-se como produto das relações sociedade / natureza.
Com uma possível vulgarização das idéias de Marx, há uma certa rejeição ao marxismo por parte de alguns geógrafos, ainda a superação por parte se outros; há ainda o ecletismo. A Geografia Humanística é tomada por alguns, sendo, na consciência, a essência das coisas como se dão; Uma valorização da experiência pessoal. Surge a geografia Cultural, à medida que a cultura, a paisagem, são individualizadoras das relações sociedade / meio. Tendo um movimento de reformulação, passando a quatro eixos de analise: a paisagem geográfica; as regiões culturais; a religião e a cultura popular.
Sobre a situação atual, a autora percebe uma volta ao empirismo, a descrição do lugar. Ainda uma releitura critica de Marx.
Geografia física x Humana
Nesse trecho, a autora fala da dicotomia existente nas duas partes da Geografia: a “Física” e a “Humana”, através do dialogo diferenciado dos representantes de cada parte com outras ciências afins, assim como, a diferenciação metodológica.
A Geografia ambiental, servindo como suporte para muitos de seus seguidores, segundo a autora, acabam com a naturalização dos processos sociais. Uma soluça, segundo Mendonça, seria a adoção do conceito desocioambiental que, por sua vez, levaria a Geografia física para uma contradição.
Espaço, território, Lugar.
Dentro da geografia Humana, salienta a infinidade de debates acerca da categoria espaço. Entendendo o processo de (re)produção do espaço, como tendo 3 níveis: o político; o econômico e o social.
A autora destaca a importância da categoria Lugar, numa relação de articulação local / global; pondo como conseqüência da globalização, a desterritorialização (afirmação a nosso ver, polemica). Destacando Milton santos como importante nesse debate sobre a relação global / local.
A relação de cotidiano, como uma das novas categorias de analise é indicada, assim como vê Lefebvre como seu precursor.
Ao falar sobre o processo de mundialização, a autora fez uma articulação entre diversas escalas espaciais.
Mais a frente, a autora comenta sobre a categorialugar para a Geografia e sobre a problemática das redes das cidades, com a redefinição das funções da Metrópole.
Sobre a Geografia Agrária, a compreensão do papel e do lugar dos camponeses é colocado como fundamental no estudo rural, tendo dois conceitos na reprodução do capital na agricultura: espacialização e territorialização, tomando, como analise, os trabalhos de Umbelino de Oliveira. Incita ainda, a existência de classes contestadoras do capitalismo no campo e na cidade, gerando conflitos.
A autora destaca outras linhas de pensamento, como trabalhos que têm como objetivo, a música, a literatura e o cinema, aproximando a Geografia da Arte.
Contradições
A autora chama a atenção para o perigo da descaracterização da Geografia ao ser cooptada pelo capital, nas Geografias, Aplicada e do Turismo. A primeira, referindo-se ao planejamento, elaboração de EIAS / RIMAS, em virtude de o Estado, ora ir contra, ora se aliar ao capital; a segunda, com o perigo de os profissionais se prepararem para “vender” o espaço em vez de “desvendá-lo”.
Conclusões da autora
Como fechamento, a autora colocou perguntas e afirmações a serem analisadas e discutidas; abriu caminho a novas pesquisas; deixou sua posição como dialética. Pressupôs que a volta do empirismo demonstra que a Geografia encontra-se em crise teórica e que, a mesma encontra-se sob o discurso pós-modernista. Mostra que há uma perda de base para o surgimento / construção de uma critica radical, uma vez que, fala-se do abandono do legado de Marx.
Reflexão
Traçar um panorama geral da construção do saber geográfico no Brasil é uma tarefa árdua, em virtude da Geografia brasileira, segundo a própria autora, ser muito diversificada.
Ao falar de correntes, conceitos e categorias, a autora depara-se com muitas concepções, mesmo, contraditórias; as mesmas devem ser tomadas como possíveis verdades uma vez que não existem, essas, absolutas. A categoria Lugar, por exemplo, é diferente nas Geografias Crítica e Humanística. A problemática da desterritorialização é polemica e a autora não cita os trabalhos de Haesbaert.
Pressupondo que a ciência não é neutra, admitimos que a autora valoriza sua concepção ideológica, o que já era de se esperar, por isso, não fazemos aqui, um julgamento de valor.
Achamos que a dicotomia entre a Geografia Física e a Humana deve ser superada, ainda que, sabendo da sua complexidade.
Quanto ao alerta a respeito da possível cooptação da Geografia pelo capital, nada podemos fazer a não ser,parabenizar e seguir adiante na denuncia; afinal o geógrafo, antes de tudo, é um cidadão e, com isso, tem o dever de zelar pelo espaço. Mesmo num mundo onde as oportunidades de trabalho são dificultadas pelo domínio do grande capital e que a subordinação a ele, às vezes, pareça inevitável, não queremos ver o geógrafo transformado em “vendedor de espaços”.
a.
*Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ, professor e coordenador do Pré-vestibular para Negros e Carentes- PVNC-Cabuçu.
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