sábado, 14 de abril de 2012

As Três Fases do Conceito de Idade Média.

por Edson Borges Filadelfo*
 Podemos identificar três grandes fases do conceito de Idade Média:
ü  1ª Entre os séculos XVI e XVIII – conceituada pelo Humanismo e o Neoclassicismo.
ü  2ª Situada no século XIX – inspirada pelo romantismo e o nacionalismo.
ü  3ª Desenvolvida no Século XX – dividida entre a visão nazi-fascista da História e pelos estudos da escola dos Annales.
Humanismo e Neoclassicismo

            Para os teóricos do medievo da primeira fase, o surgimento do conceito de “Medium Aevum”, que no latin romano significa “Idade Média” ou “Idade Intermediária” leva à desvalorização da escrita da história no intervalo que vai da queda do império romano do Ocidente (ano de 476 d.C.) e a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (1453).  Dessa forma são cerca de 1000 anos de história negligenciados pelo pensamento renascentista que levou a uma busca incessante da retomada da língua, cultura, filosofia e ciência da antiguidade clássica.
Os humanistas consideravam de baixa qualidade os textos produzidos pelos escritores medievais, além de considerarem deturpadas as visões por eles construídas, das produções culturais dos gregos e árabes.
A reforma protestante também colabora para a desvalorização do medievo, uma vez que denuncia as práticas e interpretações bíblicas da igreja católica e remontam à igreja primitiva, dos primeiros séculos depois de Cristo para promover uma revisão nas leituras dos textos sagrados, propondo restabelecer um Cristianismo que se pensava haver acabado. Dessa forma, no conceito de Idade média desenvolvido pelos protestantes, o período de dominação católica na Europa ocidental é visto como “idade das trevas”, ou fase obscura da História.
A economia da idade média também foi considerada inferior e arcaica no século XVIII, uma vez que se fez a comparação entre feudalismo praticado no passado e o capitalismo em crescimento e que iria passar por grandes transformações com a revolução industrial, depreciando o modo de produção medieval.

Romantismo e Nacionalismo

Já no século XIX, o surgimento dos estados nacionais europeus promoveu uma releitura do medievo, agora visto como o “berço” das nações européias. Nessa visão, a busca pela origem das línguas neolatinas e anglo-saxãs, assim como a exaltação da nobreza e força dos reis do passado no domínio e formação do território dos povos europeus induziu a uma historiografia romântica e nacionalista. Esse saudosismo foi promovido pelo uso político da história com vistas a realizar uma propaganda positiva do passado

Nazismo e Escola dos Annales


No início do século XX duas correntes historiográficas do medievo: uma que ainda bebia no romantismo do século XIX e que foi definida como idealismo, a serviço dos líderes nazi-fascistas e uma outra que rompeu com a visão romântica e reestruturou o conceito de Idade Média, promovida pela Escola dos Annales.

Enquanto para os nazistas, a idealização de governantes como Frederico II (1212-1250) à frente do Sacro Império Romano Germânico reacendeu o desejo de construir um novo império, sob o comando de Hitler, a Escola dos Annales promoveu a busca por uma outra historiografia do medievo, a partir da análise de documentos e as contribuições de  outras ciências como a Sociologia e a Geografia, etc. Pesquisadores como Marc Bloch e seus estudos sobre a mentalidades deram novo fôlego à historiografia da Idade Média e revalorizaram, de forma crítica, o conhecimento produzido no medievo.

Ainda hoje as colaborações da Escola doa Annales influenciam a historiografia contemporânea. Historiadores como Georges Duby, Jacques Le Goff e Jean Delumeau analisam  as sociedades medievais a partir de novos temas e problemas de investigação, inclusive questionando o recorte espaço-temporal utilizado tradicionalmente, alegando que as fases não possuem datas precisas de término ou começo, tendo gradientes diversificados e desconsiderando a Europa do leste e o Oriente próximo, como o Império Bizantino e a própria Constantinopla, assim como a ascensão dos árabes liderados por Maomé.

Bibliografia:
FIGUEIRA, Carlos A. F.  et al. História Medieval.  Volume 1, 2ª ed. Rio de Janeiro:  Fundação CECIERJ, 2012 (p. 7-29).

* Geógrafoe Licenciado em Geografia pela UERJ, professor da Rede Estadual e do Muncipio do Rio de Janeiro. Licanciando em História pela UNIRIO/CEDERJ/UAB.

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