domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Rede e a Pantera


Vivemos em um Mundo em Movimento. E os movimentos do Mundo, das pessoas do Mundo, colorem o céu e as estradas, os rios e o mar... e as ondas eletromagnéticas e os circuitos eletrônicos, as fibras ópticas e os satélites. O colorido dos monitores e motores, o cinza das fumaças e o invisível dos dados criptografados do mundo virtual transportam pessoas, idéias, sonhos e poderes. O Mundo em movimento movimenta as fotografias e altera os espaços. Na verdade parte desse mundo desrespeita o espaço.

Mas o preço dos movimentos de alguns é a estagnação de muitos. Esse mundo de viajantes, de aventureiros, eletronautas, famosos bloger’s, populares amigos dos espaços virtuais de relacionamento, comércio e de rodas de decisão é limitado. O mundo do trabalho eletrônico, da obrigação eletrônica, do lazer eletrônico é o mesmo mundo colorido que descarta os analfabetos digitais. E esse movimento parado, longe de ser ditado pela predisposição do destino, da falta de sonhos ou da aversão ao novo é gerido por um sistema segregador, que escolhe seus componentes numa multidão de desejos. Grande parcela dos olhos brilhantes de emoção, diante das tecnologias arrojadas do século XXI, estão off-line. É o mundo em movimento num processo de integração em rede. Focos de acesso em meio a muralhas eletrificadas. Pontuais como as pintas de uma onça.

Os vídeos e sons cada vez mais encantadores, as apresentações em Flash roubando a cena dos chargistas, as caixas de e-mails empoeirando os CEP’S, os editores de texto revelando escritores e poetas, as planilhas eletrônicas salvando a vida das secretarias e donas de casa. Numerosos procedimentos burocráticos, dentre muitos, os de iniciativa governamental estão em um processo de digitalização. Com o discurso da agilidade e da integração dos dados, do “fim das filas” e da modernização do sistema de gestão pública, inúmeros cadastros, matrículas e até mesmo o voto tornaram-se digitais.

Diante dessa constatação fica evidente a importância da inclusão da alfabetização digital no sistema de ensino brasileiro, não apenas no sentido de fornecer computadores com Internet ou joguinhos que qualquer pessoa pode utilizar a-criticamente a alunos teleguiados por essa lógica consumista fomentada pela mídia. É preciso educar para o mundo técnico-científico informacional, mostrar os caminhos para que a população, a partir dos estudantes até toda ela, possa saber utilizar esse recurso tecnológico como ferramenta de cidadania. Mostrar, por exemplo, que o computador, mesmo sem Internet, pode ser um aliado no cotidiano das pessoas nas mais variadas modalidades, domésticas, educativas, profissionais. Mostrar que a Internet serve também para cobrar das autoridades mais responsabilidade. Aos políticos, que estão tão distantes do povo, mas bem próximos da rede, cobrar prestação de contas de sua atuação com mensagens, grupos de discussão e fiscalização. Às empresas que não respeitam a os serviços de atendimento ao consumidor, buscar diálogo subsidiado pela potencialidade do contato com as agências regulamentadoras de sua atividade, como a ANEEL, ANATEL, DETRO e etc, de certo que percebendo as cobranças elas passam a cumprir com suas obrigações.

E educar nesse sentido é garantir o acesso às informações e a capacidade de filtração das informações verídicas e formar educadores conscientes de seu papel.

E será que isso é o bastante? A resposta mais coerente seria um não! Garantir o acesso e a educação digital são partes de um processo de democratização das tecnologias. É preciso garantir também a permanência. É preciso o barateamento dos computadores e periféricos, é preciso a diminuição das tarifas de telecomunicações e uma expansão integral das mesmas, uma verdadeira globalização. É preciso que a mancha da rede de computadores no Brasil seja tal qual o preto de uma pantera negra, ou seja, abrace todos os brasileiros para que então todos possamos através de um botão, que não o somente o “confirma” nas urnas eletrônicas, exercer nossa cidadania.



Edson Borges Filadelfo (ant Vicente) Geoeducador)
http://recantodasletras.uol.com.br/redacoes/2174234

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