domingo, 27 de fevereiro de 2011

As Feras Tomaram a Floresta ou "Um Índio e a Saga Amazônica"


Certo dia um índio muito corajoso recebeu um visitante. Ele era educado e generoso. Trouxe umas parafernálias esquisitas e brilhantes as quais lhe deu. Para retribuir a generosidade, resolveu então dar ele um pouco do que a terra lhe dava. Mal sabia ele que, com aquela oferta sublime, pouco a pouco iria crescer a cobiça e o visitante iria querer mais. Mas qual o problema? Dar do que a terra gerava não pareceria correto? - Queres erva? A terra me dá a erva e eu te dou a erva! - Para o índio que via naquela erva um presente de Tupã aos homens da terra nada era mais humano que oferecer.

E assim foi...

Mais tarde aquele visitante novamente apareceu, só que desta vez não estava sozinho. Trouxe uns amigos consigo. Eles também queriam as ervas, o Cacau e as lágrimas da seringueira. Lhes foi dado mais e mais. Mas eles não se contentavam. Quanto mais recebia mais queriam. Ao fim, o pobre Índio contente por ter agradado aos visitantes constantes sentiu falta dos mesmos, já não apareciam tão frequentemente. Que será?

Numa caminhada pela floresta, certa vez, o Índio da tribo dos Tuyuka ouviu barulhos estranhos vindos de grandes feras que devoravam as grandes árvores. As feras, mais bravas que onças, comiam tudo que viam pela frente e o pobre índio, ainda espantado, tentou pedir ajuda aos guerreiros de sua tribo. Alguns índios morreram ao tentar enfrentar as feras que só não atacavam os amigos daquele visitante que esteve na tribo algumas vezes.

Algum tempo depois o índio, curioso e corajoso, voltou ao local onde teria visto as feras. No lugar da Mata haviam plantas igualzinhas umas das outras, como suas plantações de mandioca, porém, que sumiam no horizonte deixando o rio que o índio gostava de visitar mais longe, e vez por outra ouvia o rosnar de feras em meio a aquelas plantações. Conversando com um índio amigo de outra tribo, ele ouviu dizer que as feras estavam escavando a terra e não havia nem mata nem planta alguma onde ele gostava de ir uma vez ao ano mais pro lado onde o sol dorme. Se aqui as feras comem as arvores e cuidam das plantas, lá só havia destruição e estavam levando a terra.

Muito tempo se passou e cada dia mais o índio tinha que temer andar na floresta, pois as feras estavam por todos os lados, até mesmo cruzavam o céu com seu ronco agressivo. Desejando visitar o grande rio que seu pai lhe havia levado em sua infância o, então bravo guerreiro, aventurou-se na selva em busca do sonho perdido. Será que as feras levaram as águas do grande rio?

Chegando ao local, ao desbravar as terras que antes exuberavam as matas mais antigas da região, o índio derramou-se em lágrimas. Uma fera havia segurado as águas do rio, talvez na tentativa de levá-las embora, e o Iguassú, que não se entregava, inundou a mata matando as árvores, animais e uma pequena tribo que ali habitava a muito e muito tempo. O Índio não pensou duas vezes. Triste com todos os problemas que haviam surgido desde que avistou as feras pela primeira vez, ele se jogou nas águas desesperadas do grande rio até que atingiu as mãos da grande fera e morreu.

Seu sangue foi espalhado pelo rio, tornando suas águas avermelhadas como suas pinturas. Desde aquele dia o grande rio - hoje chamado - Solimões - luta para não ver perdidos os rastros do sangue do guerreiro Tuyuka quando se encontra com o Rio Negro, fazendo do encontro de suas águas e o nascimento do Amazônas uma maravilhosa paisagem, guadando consigo segredos e estórias fascinantes como a do índio que amava sua terra.


Edson Borges Vicente (Filadelfo)2007

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