Edson Borges Vicente**
Pedro Abreu***
A implantação da malha ferroviária fluminense, iniciou-se em meados do séc XIX em função da conjuntura econômica e financeira que se dava na região. Tratava-se de uma economia em transição entre um sistema de produção agrária com base no trabalho escravo e uma economia cada vez mais ligada às formas capitalistas e a necessidade de ampliação da exportação.
O trabalho antes realizado por escravos e posteriormente por tropeiros, seria agora feito de maneira mais eficiente e em maior escala pelas locomotivas; elas permitiam o escoamento de grandes quantidades de produtos que antes tinham um imenso desperdício em função das condições de transporte bastante precárias. Além do que, a rota seguida apresentava várias dificuldades por ser uma região de topografia acidentada e com pontos pantanosos, propiciando doenças.
Através de incentivos do governo e de investimentos nacionais com a importação de maquinário inglês, fez-se possível a construção das primeiras ferrovias.
As ferrovias e o espaço
Após o surgimento das ferrovias fluminenses, observou-se uma mudança na ordenação espacial da região, com o redesenhamento das vias de acesso que agora tinham como função chegar às estações ferroviárias, refazendo a geografia da região. Alguns lugares tiveram grande prosperidade em detrimento de outros que por vezes ate desapareciam; Com isso, novas áreas passaram a ser exploradas enquanto outras foram entregues ao abandono.
Ferrovias x meio ambiente
O processo de construção das primeiras estradas de ferro, não foi acompanhado de um estudo e um plano que levasse a um melhor rendimento e menor impacto sobre o meio ambiente que atravessaria o seu caminho. A região pantanosa e com cursos pluviais atrapalhou o funcionamento das vias férreas por causa da má construção das mesmas. Aterravam-se pântanos, assoreavam-se e desviavam-se cursos de rios, impediam escoamento de águas que se acumulavam refletindo no alagamento de outras áreas. Isso causava problemas como a malária e outras doenças.
Nunca houve preocupação por parte dos construtores das ferrovias em se preservar as áreas cortadas pelos trilhos, como mostrada por Lima e Pinheiro no trecho a seguir.
“Os pequenos tributários e valias que a elles concorrem apresentam condições idênticas, formando com aqueles extensas bacias pantanosas entre os aterros das estradas de ferro, em cuja obra de arte nunca houve a preocupação de dar livre escoamento às águas, estrangulando-se antes em vários pontos o curso dos rios, ou os desviando do leito natural para formarem de um e de outro lado dessas linhas um deposito permanente de águas estagnadas.” (Lima e Pinheiro, 1912, p.162-163)
A implementação da malha ferroviária fluminense teve vital importância no desenvolvimento da região e ao mesmo tempo teve graves conseqüências para a mata atlântica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REGO, Fábio Hostilio de M. A Baixada Fluminense. in: Revista de Engenharia. São Paulo. 1° volume, junho, 1911 - maio,1912.
RABELLO, Andréa Fernandes Considera C. Os caminhos de ferro da província do Rio de Janeiro: Dissertação de mestrado. Niterói: UFF, 1996.
* Bacharel em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ex aluna da 1ª turma de Geografia com Ênfase em Meio Ambiente da FEBF UERJ.
** Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Campus Maracanã. Ex aluno da 1ª Turma Geografia com Ênfase em Meio Ambiente da FEBF UERJ. Professor da Rede Estadual de Educação; professor e coordenador do PVNC Cabuçu.
*** Licenciado em Geografia na 1ª Turma Geografia com Ênfase em Meio Ambiente da FEBF UERJ. Fundador da ONG Livro de Rua.
Texto escrito em 2004 para a disciplina GeoHistoria Ambiental profª Drª Simone Fadel.
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