Herói: um simples humano ou um humano
simples: as contribuições de Freire e do Filme ‘Quando Tudo Começa’ na promoção
da responsabilidade docente.
Edson Borges Filadelfo[1]
Os
verdadeiros heróis não se reconhecem como tal, nem buscam tal reconhecimento.
Na verdade não existem heróis e sim, verdadeiros humanos, ou melhor, humanos
verdadeiros que em sua simplicidade fazem a diferença a partir das escolhas
certas, das atitudes certas e da postura certa nas horas necessárias. E quando
isso ocorre na escola e, em especial, quando parte da liderança da escola (a
gestão), as coisas podem ter conseqüências mais profundas do que se espera.
‘Quando tudo começa’, filme francês que aborda o cotidiano de uma escola de
educação infantil de uma cidade periférica da França na década de 1990 fase de
consolidação do neoliberalismo a partir da experiência de um diretor engajado
com as necessidades estruturais para o aprendizado dos alunos, inclusive
extrapolando os muros da escola, contribui para a formação humana do educador.
O torna mais sensível aos problemas cotidianos que são muitas vezes comuns ás
escolas periféricas, até mesmo em países desenvolvidos.
A
personagem principal é um educador diferente dos demais apenas por não desistir
de seus princípios fundamentais, não negar sua responsabilidade docente,
enfrentando dilemas e problemas dos mais variados possíveis e se vendo até
mesmo dentro do âmbito familiar envolvido com questões de ordem social e
econômica, obrigando-se a mediar conflitos na esfera política quando a educação
deixa de ser prioridade no estado francês, marcada a muito por uma postura
geralmente voltada ao social, até mesmo paternalista. A contrinuição de Paulo
Freira nesse sentido é grande quando destaca a “necessidade de uma intervenção
competente e democrática do educador nas situações dramáticas em que os grupos
populares, demitidos da vida, estão como se estivessem perdido o seu endereço
no mundo” (FREIRE, 2001, p. 27).
O
diretor, amante da literatura, não deixa que os desafios impostos cessem sua
produção artística, sua responsabilidade enquanto diretor e professor nem mesmo
seu afeto e envolvimento amoroso, assim como sua solidariedade para com os
alunos, pais, professores e demais sujeitos envolvidos no cotidiano da escola. Mais
uma vez recorremos a Freire para quando o mesmo diz “Sei que as coisa podem até
piorar, mas sei que é possível intervir para melhorá-las”. (FREIRE, 1996,
P.22). De todo modo, ele – o diretor - até pensa em desistir em uma certa
altura, porém, os frutos de sua atuação convergem em um apoio mútuo de sua
equipe e de todos que com ele convivem, o fortalecendo em um ano, que o mesmo
considerou atípico, mas que cada vez mais parece via de regra.
Embora a
situação pareça de redução da importância o papel do educador, em todas as
modalidades de ensino, inclusive na EJA, devido ao fato dos alunos serem em sua
maioria já adultos e com problemas mais complexos, não pode acabar no educador
a alegria e a coragem para continuar a praticar a educação em sua totalidade.
Assim sendo, a esperança, cujo ditado popular diz que é ‘a última que morre’,
na verdade é a geradora das outras condições humanas para o exercício da
docência. Mais uma vez recorremos a Paulo Freire que insiste na “a
esperança de que professores e alunos,
juntos, podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e
juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria”. (FREIRE, 1996, P.29).
Referencias
Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 25ª ed. São Paulo: Paz e Terra. 1996.
FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. 23ª ed.
São Paulo: Cortez. 2001.
[1]
Bacharel e Licenciado em Geografia pela UERJ. Pós-Graduando em Educação de Jovens e Adultos pelo IFRJ Nilópolis. Professor da Rede Estadual de
Educação do RJ: SEEDUC.