O ato de educar é complexo e permeado pelas
experiências do cotidiano. Como uma rede de relações entre os diversos atores
da escola, o saber-fazer docente é construído na tessitura no-do-com o cotidiano
escolar. Nesse sentido, a experiência docente é forjada no coletivo. Para
Ferraço, deve-se “escutar os sujeitos das
escolas para, a partir dessa escuta e com eles, fortalecer processos
contra-hegemônicos de políticas educacionais” (2007, p. 74). Compreender a
complexidade do cotidiano escolar é, nesse sentido, fundamental para a reflexão
docente objetivando potencializar sua práxis.
O ato de se lançar no cotidiano escolar, despindo-se
de julgamentos prévios e dispondo-se a vivenciar o novo é chamado por autores
que se debruçam no tema como “mergulho”.
(OLIVEIRA, 2007, p. 60). Esse
mergulho, ou envolvimento com os atores do cotidiano, é rico em experiências,
surpresas, frustrações e, sempre, em aprendizado. Os atores do cotidiano em
suas experiências constroem o saber-fazer escolar, cimentando em suas memórias
as estratégias necessárias para o enfrentamento crítico dos problemas docentes
e demais desafios da atividade pedagógica.
Do ponto de vista dos recursos didáticos, a
experiência no-do-com o cotidiano promove constantes modificações no uso de
tais ferramentas, haja vista que a reflexão na-da-sobre a ação pedagógica é
construtora de saber pois “os educadores, enquanto agentes / atores do
processo educativo e produtores de saberesfazeres, contribuem com o
ensino-aprendizagem de maneira significativa. Atuam no currículo através de seu
saber docente”. (VICENTE, 2008, p.8). Essa transformação do currículo
realizada na tessitura do cotidiano promove embates entre o ‘saber escolar’ e o
‘saber docente’ ou entre o ‘currículo formal’ ou ‘oficial’ e o ‘currículo real
ou praticado’ (op. cit.).
Dessa forma é fundamental no processo de formação
docente a experiência pedagógica no-do-com o cotidiano, sendo portanto
imprescindível o ‘mergulho’ no dia-a-dia da escola com sua complexidade e
mutabilidade. Só dessa forma pode-se objetivar uma formação docente sólida e
crítica, detentora de experiência com os atores do processo educativo e com o
uso das atividades e ferramentas pedagógicas ou recursos didáticos.
Referências Bibliográficas:
FERRAÇO, Carlos Eduardo.
Pesquisa com o cotidiano. In: Revista
Educação e Sociedade. Campinas, vol. 28, nº 98, janeiro/abril, 2007 (p.
73-95).
OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Currículos Praticados: entre a regulação
e a emancipação. Rio de Janeiro: D & A, 2003.
PIMENTA, Selma Garrido.
Professor Reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, Selma Garrido,
GHEDIN, Evandro (Orgs). Professor
Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3 ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
VICENTE, Edson Borges. Cotidiano, Reflexão e Geoeducadores na
produção do conhecimento. Monografia de Graduação. IGEOG – UERJ, 2008,
Mimeo.
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