sábado, 15 de maio de 2010

EDUCAÇÃO TROUXE DECEPÇÃO

                                                    Por Edson Borges Filadelfo
CLASSIFICADO NO CONCURSO DE POESIAS "DE VIAGEM PELA PALAVRA" DA LITTERIS EDITORA" 2012

Disponível também em whttp://recantodasletras.uol.com.br/contos/1379447

 

EDUCAÇÃO TROUXE DECEPÇÃO


Edson Borges – Geoeducador


 


Sem dúvida, João era simpático e trabalhador. Porém era homem matuto, da roça, e aonde chegava tudo ia bem até ele abrir a boca, pois falava mal. Já sua mulher, Ritinha, menina estudada, criada na cidade, tinha vergonha de João. Por isso, só conversavam a sós.

Numa dessas conversas, João dizia:

-   Mai Ritinha, pruquê oçê veio imbora da feista dispois qui eu chegei perto di oçê e disse: “Ritinha, mai qui cabrita mais fromosa, cê tá rebentando nessa feista”. E, até fui cavalêro cum suas amigas; chamei inté elas pra vim na nossa fazenda i bebê leite tirado na hora da nossa Gertrudes. E óia que num é quarqué um qui tem esse privilégiu não!

Ritinha gostava de João mas ficava sem graça diante de suas amigas que muito riam dela. Então disse a João:

-   Olha amor, você sabe que eu te amo, não sabe?
-   Mai é craro qui sei!
-   Então promete que me faz uma coisa se eu pedir?
-   Ara, prometo minha frô.
-   E não perguntará por que?
-   Tá tudo bem, eu faço o qui oçê pidi!
-   Então é o seguinte: não fale comigo na presença de minhas amigas, nem vá à festas comigo como um Jeca. É por amor está bem? Einh  meu cabritinho?
-   Sô seu bodi véio minha cabrita!

Haveria uma grande festa na cidade e Ritinha estava doida para ir. Iria acontecer um tal de Blackout e, por alguns minutos, o salão ficaria às escuras. Como João não tinha roupas adequadas para aquele tipo de festa, Ritinha conseguiu convencê-lo a ficar em casa.

Faltando uma semana para a festa, João pensou consigo mesmo: “eu vô inté a casa du meu cumpadi da cidade. Vô pidi ele pra imprestá umas rôpa i mi insiná uma frase bunita preu dizê pra Ritinha. Ela vai dorá. Vô proveita esse tal di blecauti pra falá prela. Ela num vai nem creditá”.

E, assim foi. Ritinha nem sabia o que João lhe preparava. E João foi à cidade sem que ela chegasse da casa de sua mãe que era em outra cidade.

Quando chegou o dia da festa Ritinha se produziu toda, ficou linda e com um beijo despediu-se de João dizendo:

-   Meu cabritinho, não se preocupe pois logo estarei de volta, esta bem?
-   Sou seu bodi véio minha cabrita! E, podi í tranqüila qui eu vô ficá bem, só num vorta muito tardi qui eu já tô inté cum saudadi.
-   Tudo bem, meu cabritinho!
-   Sô seu bodi véio minha cabrita!

Logo assim que Ritinha saiu para a festa, João se arrumou. Passou gel no cabelo, o qual seu amigo lhe havia dado, vestiu a roupa emprestada e partiu também.

Ritinha já estava embalada na festa quando João chegou. Ela não o viu e em poucos minutos chegou a hora do esperado Blackout. Tudo ficou na penumbra. Nesse momento João chegou para Ritinha e falou:

-   Minha vontade, nesse momento, é de tomá-la em meus braços como jamais fiz antes. E seria a melhor noite de amor que já tivemos. O que acha minha princesa?

Então Ritinha respondeu:
-   Mas desta vez tem de ser rápido pois o Jeca do meu marido está em casa me esperando e pediu para que eu voltasse cedo!
                                        FIM!

(Esse texto foi escrito em 28/04/2002 e revisado e alterado em 29/05/2012).


¨  Edson Borges Filadelfo (Geoeducador) Bacharel e Licenciado em Geografia pela UERJ,  Professor da Rede Estadual do RJ e Professor da Rede Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, Graduando em História pela UNIRIO. Contatos: www.geoeducador.blogspot.com
Geoeducador
Publicado no Recanto das Letras em 11/01/2009
Código do texto: T1379447

Um comentário:

César Gomes disse...

Foi vc msm que escreveu esse texto? É muito engraçado! O final é de chorar de rir. Eu também sou professor de geografia e escritor amador nas horas vagas.