terça-feira, 22 de maio de 2012

Refletindo sobre o Cotidiano Escolar e os Recursos Didáticos na Formação de Professores.


Por Edson Borges Filadelfo (ou "Vicente")
O ato de educar é complexo e permeado pelas experiências do cotidiano. Como uma rede de relações entre os diversos atores da escola, o saber-fazer docente é construído na tessitura no-do-com o cotidiano escolar. Nesse sentido, a experiência docente é forjada no coletivo. Para Ferraço, deve-se “escutar os sujeitos das escolas para, a partir dessa escuta e com eles, fortalecer processos contra-hegemônicos de políticas educacionais” (2007, p. 74). Compreender a complexidade do cotidiano escolar é, nesse sentido, fundamental para a reflexão docente objetivando potencializar sua práxis.
O ato de se lançar no cotidiano escolar, despindo-se de julgamentos prévios e dispondo-se a vivenciar o novo é chamado por autores que se debruçam no tema como “mergulho”. (OLIVEIRA, 2007, p. 60). Esse mergulho, ou envolvimento com os atores do cotidiano, é rico em experiências, surpresas, frustrações e, sempre, em aprendizado. Os atores do cotidiano em suas experiências constroem o saber-fazer escolar, cimentando em suas memórias as estratégias necessárias para o enfrentamento crítico dos problemas docentes e demais desafios da atividade pedagógica.
Do ponto de vista dos recursos didáticos, a experiência no-do-com o cotidiano promove constantes modificações no uso de tais ferramentas, haja vista que a reflexão na-da-sobre a ação pedagógica é construtora de saber pois  “os educadores, enquanto agentes / atores do processo educativo e produtores de saberesfazeres, contribuem com o ensino-aprendizagem de maneira significativa. Atuam no currículo através de seu saber docente”. (VICENTE, 2008, p.8). Essa transformação do currículo realizada na tessitura do cotidiano promove embates entre o ‘saber escolar’ e o ‘saber docente’ ou entre o ‘currículo formal’ ou ‘oficial’ e o ‘currículo real ou praticado’ (op. cit.).
Dessa forma é fundamental no processo de formação docente a experiência pedagógica no-do-com o cotidiano, sendo portanto imprescindível o ‘mergulho’ no dia-a-dia da escola com sua complexidade e mutabilidade. Só dessa forma pode-se objetivar uma formação docente sólida e crítica, detentora de experiência com os atores do processo educativo e com o uso das atividades e ferramentas pedagógicas ou recursos didáticos.

Referências Bibliográficas:
FERRAÇO, Carlos Eduardo. Pesquisa com o cotidiano. In: Revista Educação e Sociedade. Campinas, vol. 28, nº 98, janeiro/abril, 2007 (p. 73-95).
OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Currículos Praticados: entre a regulação e a emancipação. Rio de Janeiro: D & A, 2003.
PIMENTA, Selma Garrido. Professor Reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, Selma Garrido, GHEDIN, Evandro (Orgs). Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
VICENTE, Edson Borges. Cotidiano, Reflexão e Geoeducadores na produção do conhecimento. Monografia de Graduação. IGEOG – UERJ, 2008, Mimeo.

sábado, 12 de maio de 2012

Reflexão sobre a relação entre memória e história: interpretações sobre o passado recente do Brasil e a abertura dos arquivos secretos da ditadura.

 Por Edson Borges Filadelfo*

 
Em um período no qual a história assiste uma ascensão pretensiosa e tendenciosa da memória na busca pela “fiel verdade” sobre o passado recente, em especial ao período da ditadura militar (1964 até 1985), cabe aos historiadores o cuidado no trato dos documentos secretos que passam por um processo de abertura e disponibilização com suas transferências para os arquivos públicos. Uma vez públicos (e isso é um processo que está em andamento), eles estarão disponíveis para todo e qualquer cidadão brasileiro e os relatos orais provenientes de interrogatórios, redações oficiais, planejamentos de operações e decisões governamentais e das autoridades militares suscitarão, de um lado, a interpretação literal dos mesmos, como verdade absoluta e acrítica do senso comum ou sensacionalista da mídia de massas e, de outro, a análise criteriosa (e para tanto, relativista e crítica) da História.